Antes de culpar o outro pelo ciúme que você sente, avalie sua insegurança

O ciúme sempre causa estrago e o único jeito de interromper sua ação é tomando consciência de como ele age. Digo isso porque o ciúme, invariavalmente, tem a ver com a pessoa que o sente. Acontece que, quando sentimos ciúmes, há uma tendência natural de responsabilizar os outros pelo seu aparecimento. No caso de um relacionamento íntimo, por exemplo, é mais fácil dizer que o outro te deu motivos para sentir ciúmes do que observar os reais motivos que o deixaram enciumado. Então, meu convite hoje é para que olhemos essa questão um pouco mais a fundo.

Esse sentimento costuma se aproveitar de feridas de inadequação, de uma falta de confiança que a pessoa tem em si própria. É dessa forma que ele faz a festa e distorce sua visão, impedindo que veja com clareza o que está acontecendo. Assim, a pessoa costuma se sentir vítima da falta de cuidado e mau-caratismo do outro e perde a grande oportunidade de vasculhar dentro de si as dores que lhe fazem acreditar que ela é impotente, incapaz e não suficiente.

Existem casos em que o outro realmente provoca situações e sente prazer em ver o parceiro enciumado e inseguro. Mas ainda assim, só cabe a você cuidar do ciúme que te habita e compreender porque escolheu um parceiro que gosta de provocar isso. O fato é que você precisa identificar por qual lugar o ciúme entra, porque enquanto não fizer esse trabalho de autotransformação continuará agindo da mesma maneira, mesmo que troque de parceiro.

Sentir ciúme está intimamente ligado ao medo de perder. Como a pessoa não confia em si mesma, acredita que não vai conseguir sustentar determinada situação. E quando o ciúme aparece e te faz sofrer, as portas do mal se abrem. Primeiro porque você possivelmente sentirá vontade de se vingar de "quem te fez sentir ciúme". Então, esse alguém, por sua vez, também deverá se vingar de volta, criando um ciclo infinito de destruição. Eu chamo isso de ignorância, de miséria. E assim como o céu é infinito, o inferno também é.

Só te resta se mover para conseguir pôr fim a esse ciclo auto perpetuador. Existe uma compulsão negativa dentro de você que te faz agir automaticamente. Tem uma rede neural no seu cérebro que determina esse comportamento, e, para fazer diferente, você precisará criar uma nova rede. Isso não acontece da noite para o dia, mas pode ser colocado em prática sempre que o ciúme aparecer. Nesse momento, você terá que escolher agir de outro modo.

Comece observando quais são suas atitudes quando o ciúme vem. Você começa uma briga? Acusa o outro? Se fecha? Morre de raiva e faz planos de vingança? Entenda seu comportamento negativo viciado. Então, na próxima vez que se sentir com ciúme, faça diferente. Saia fora um pouco, fique quieto e respire. Procure dentro de você essa insegurança. De onde ela vem? Então, coloque-a no banco da verdade e pergunte: "Será que é verdade mesmo que eu sou tão impotente assim?".

Você vai perceber que isso é só uma crença; só um pensamento que está tomando como real. A fase dois desse processo será criar disposição para abrir mão dessa ilusão que carrega consigo acreditando ser você. Mas vamos aos poucos. Passo a passo, criando condições de estarmos mais presentes quando somos tomados por esses aspectos sombrios da nossa personalidade.

Lembre-se que é só você quem pode escolher diferente, mas para isso precisa estar fortalecido. E o que te fortalece é a auto-observação. É exatamente o distanciamento desse fluxo de pensamentos, emoções e sensações.

Só assim você deixa de ser tragado.

Só assim você escolhe interromper os ciclos de sofrimento e abre espaço para o amor.