Por que temos tanta dificuldade em nos relacionar?
Sri Prem Baba
27/07/2018 04h00
Crédito: Istock
Tenho dito que se a vida é uma escola, os relacionamentos são sua universidade. Relacionar-se talvez seja o grande teste da vida. Você é constantemente desafiado a amar e a odiar, a sentir prazer e medo, a tomar consciência das suas identificações, das capas que lhe encobrem, e poder ir além delas. Isso porque só é possível encontrar paz, conforto e alegria, quando se pode deixar o outro completamente livre, inclusive para não te amar – e esse é o ponto central da história.
Deixar o outro livre para não te amar quer dizer aprender a aceitar o que o outro tem (ou não) para te dar, sem perder seu rumo, sem fechar o coração. O início desse processo é aprender a lidar com a frustração, já que ela é inevitável. Às vezes o outro vai criticar, julgar, rejeitar, e o que você fará a respeito? Geralmente partimos para a briga, tentando forçá-lo a nos enxergar, ver nosso valor, nos respeitar e amar. Queria lhe propor um outro caminho: para que nessa hora, quando não se sentir correspondido, dar-se a oportunidade de mergulhar nessa tristeza.
Respira fundo e diz: "Ok, hoje não estou sendo amado". Não tire isso do campo de visão se protegendo atrás da raiva ou da indiferença (que é outra forma de sentir raiva). Isso é uma fuga! Viva a dor da tristeza, converse com ela, entenda o porquê de ela estar aí dentro. Não desperdice o seu tempo valioso de vida com brigas inúteis tentando fazer do outro um escravo para atender aos seus caprichos, porque isso é uma grande ilusão.
Às vezes a gente fecha o coração por nada, só porque o outro não nos olhou do jeito que queríamos. A gente se deixa perturbar e reage abrindo mão da nossa paz interior. Experimente se perguntar quem em você depende que o outro seja de um jeito para você se sentir bem? Quem em você se sente tão perturbado com a atitude do outro a ponto de empenhar sua energia para criar uma guerra? Na medida em que se aprofunda nesse processo de autodescoberta, começa também a testemunhar o fluxo da impermanência sem se perder.
Muita gente me pergunta se a maldade do mundo vai ter fim um dia. Eu cuido de te ajudar a colocar fim na maldade que você carrega, e ela se manifesta a cada momento em que seu coração se fecha para o outro, para a vida. Quando sua mente é tragada e você se perde de si mesmo. Você não precisa concordar com todas as barbáries que acontecem no mundo, mas se permitir que elas afetem a paz de seu coração, você se invalida, perde seu maior poder que é amar.
Uma vez, Dalai Lama contou que teve a chance de se encontrar com um lama que ficou preso por 18 anos após o Tibete ter sido conquistado pela China. Ele foi severamente torturado e viveu diversas atrocidades. Ao ser questionado sobre o maior medo que sentiu na prisão, o lama respondeu que era o de perder a compaixão pelos chineses. Compreendo que ele recebeu uma grande benção, porque se passou por tudo isso sem fechar o coração, não o fechará para mais ninguém. Ele se tornou a própria encarnação da compaixão.
Lembre-se de que a vida é uma escola exigente e, também, uma bolha de sabão: quando menos se espera, já foi. Nosso trabalho aqui é aproveitar o tempo que temos para nos tornarmos livres.
Livres das perturbações externas que nos tiram a paz.
Livres da nossa pobreza interior.
Livres para amar sem querer nada em troca.
Sobre o autor
Nascido em São Paulo, Sri Prem Baba estudou psicologia e ioga. É discípulo do mestre indiano Sri Sachcha Baba Maharaji Ji, da linhagem Sachcha, e idealizador do movimento global Awaken Love. Seu trabalho une conhecimentos para fortalecer valores humanos, espirituais e sociais. Hoje, existem centros representativos de sua missão na Índia, Estados Unidos, Europa, Israel, Argentina e Brasil. É autor dos livros “Amar e Ser Livre - As Bases Para uma Nova Sociedade”, “Transformando o Sofrimento em Alegria” e do best-seller “Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos”.
Sobre o Blog
Ensinamentos para o bem-viver com foco em autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Conteúdos profundos abordados de forma prática sobre relacionamentos, propósito de vida, prosperidade, sustentabilidade, educação, crise planetária e espiritualidade, entre outros.